Stress máximo. Nervos à flor da pele. A caneta cai no chão e você quer morder o primeiro que aparece na sua frente. Quem já não passou por isso às vésperas de sair de férias?
Se estiver nesse nível de ansiedade, nada de voar para Nova York. Lá, o ritmo acelerado da cidade e das compras levará sua estafa para o alto do Empire State Building. E são mais de cem andares, hein?
Por isso é que, numa dessas fases sombrias, resolvi desligar as turbinas e seguir rumo à região de Visconde de Mauá, lugar que só conhecia de ouvir dizer.
Como fui antes da reforma da estrada ou, para ser mais exata, durante as obras, o caminho de ida não foi lá muito relaxante.
Mas ao chegar quase na fronteira do Rio de Janeiro com Minas Gerais, tudo começou a melhorar. Ao menos no início…
Após desfazer as malas, me assenhorar do estiloso chalé e reconhecer a área, jantei em grande estilo e capotei.
No dia seguinte, algo mágico aconteceu.
Despertei lentamente, sem me dar conta do porquê.
O teto do quarto era de madeira e o sol vinha se mostrando timidamente por trás das leves cortinas brancas.
Fechei os olhos e então percebi o que havia me acordado: o canto das aves.
Ah! Acordar com os passarinhos!
Só as princesas dos contos de fadas se levantam assim. Meu coração amoleceu de tanta emoção.
Foi um genuíno calmante natural. Uma poção encantada. Mais que isso. A certeza de que minha escolha de roteiro havia sido perfeita.
Aproveitei o dia fotografando pela redondeza, passeando a pé e encerrei jantando uma deliciosa sopa de batata baroa com temperinhos dentro de uma broa de milho fresquinha, no restaurante do próprio hotel.
Na manhã seguinte, incomodada com alguma coisa, abri os olhos de repente. O relógio marcava cinco horas e parecia que todos os bípedes de penas haviam resolvido tomar banho de sol nascente no telhado, bem em cima da minha cabeça.
Ai, acordar com os passarinhos…
Respirei fundo e como não tinha nenhum carneiro por perto, contei os arrulhos, chilreios e trinados até cochilar, para somente sair da cama num horário de gente.
O encanto do lugarejo e os pratos deliciosos saboreados ao longo do dia me fizeram esquecer por completo o incidente matinal.
À noite, assisti a um showzinho intimista promovido pelo estabelecimento hoteleiro onde me hospedara. Bom demais. Aí o soninho me pegou.
Só percebi que já era dia porque clareava lá fora. Tomei um baita susto com um barulho alto e estridente. Com o coração aos pulos, me dei conta do que estava acontecendo ao meu redor. Aqueles bichos alucinados estavam atacando novamente. Era uma cantoria misturada a pios que martelavam direto nos meus tímpanos. Será que justo aqui é algum point de plumas e penas?
Aaarrrgh, acordar com os passarinhos!!!!!!!!
Apesar de não ter dormido tanto quanto gostaria, o saldo ao final da viagem foi altamente positivo. Já saí de lá querendo voltar. É mais ou menos como mulher que tem o segundo filho por ter esquecido a dor do parto.
O mais irônico de toda essa história é que recentemente me mudei e o apartamento fica bem próximo de muita água, tanto doce como salgada.
E adivinhe quem se sente atraído por tais condições climáticas? Acertou: pas-sa-ri-nhos.
Antes da aceleração de batimentos cardíacos que se repetia a cada despertar durante aquelas férias, eu sonhava em ter um daqueles recipientes para atrair beija-flores.
Agora, estou bem mais contida.
Nada de atrair essa raça. Mas confesso que ainda fico toda embevecida quando um deles vem pousar na minha varanda.
Só unzinho não faz mal a ninguém. Assim espero.